A presidente Dilma Rousseff (PT) embarca nesta semana para a Rússia, onde se reunirá com líderes dos Brics,
deixando para trás taxas de aprovação que não se viam desde novembro de
1989, quando o presidente era José Sarney (PMDB). A reportagem do UOL
comparou dados da época com os atuais e conversou com especialistas em
pesquisas de opinião para saber: por que, apesar de o Brasil hoje ser
tão diferente do de 1989, Dilma amarga taxas de aprovação semelhantes às de Sarney?
A pesquisa CNI/Ibope divulgada no último dia 1º mostrou que apenas 9% dos entrevistados avaliam o governo Dilma como "ótimo ou bom". A taxa é a mesma registrada pela pesquisa em novembro de 1989, quando Sarney era o presidente.
Mas como era o Brasil em novembro de 1989?
Naquele mês, a inflação registrada pelo IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo), do IBGE, foi de 47,8%. Eram os tempos da chamada
"hiperinflação". Sob controle desde 1994, com a implantação do Plano
Real, a inflação de maio de 2015 (mês que antecedeu a pesquisa divulgada
em junho) foi de 0,74%, considerada alta por economistas.
Em
1989, 19,2% dos brasileiros viviam em condições de pobreza extrema, ou
seja, não ganhavam o suficiente para satisfazer suas necessidades
alimentares. Em 2013 (ano da pesquisa mais recente sobre o tema), esse índice foi de 5,2%.
Ainda em 1989, a taxa de mortalidade infantil era de 50,8 por mil
nascidos vivos. Em 2013 (ano da pesquisa mais recente), a taxa era mais
de três vezes menor: 15,7 por mil nascidos vivos. Outro item no qual o
Brasil evoluiu entre 1989 e 2015 foi o IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano). Segundo a ONU, o IDH do Brasil em 1990 (ano de referência) era
de 0,682. O índice divulgado em 2014 (dado mais recente), no entanto, foi de 0,744. Neste indicador, quanto mais perto de "1", mais desenvolvido é o país.
Se o Brasil tem menos inflação, menos pobreza e menos mortalidade
infantil, como explicar baixas taxas de aprovação de Dilma Rousseff?
Para o coordenador de pesquisas da CNI Renato da Fonseca, uma das
explicações pode estar na memória de parte dos entrevistados. Ele
argumenta que boa parte deles, com idades entre 16 e 34 anos, não se
lembrariam do período em que o Brasil apresentava todos esses índices
negativos.
"Um dos fatores é o impacto da população jovem que
não conviveu com a inflação alta e o desemprego. Obviamente, isso afeta
muito mais", afirmou Fonseca, durante o lançamento da pesquisa CNI/Ibope
de junho.
De acordo com a pesquisa, quanto mais jovem o
entrevistado, menor a aprovação de Dilma. Entre aqueles com idade de 16 a
24 anos, apenas 6% avaliavam o governo Dilma como "ótimo ou bom".
Enquanto isso, entre aqueles com idade entre 45 e 54 anos, a avaliação
positiva de Dilma sobe para 11%. Entre os que têm 55 anos ou mais, o
índice sobe para 14%.
O sociólogo e cientista político Antônio
Lavareda, no entanto, diz que se ater a dados objetivos não é suficiente
para entender a baixa popularidade de Dilma.
"Temos que focar
na dimensão emocional. Subjetiva. O ajuste fiscal a Dilma é como o Plano
Cruzado 2 do Sarney, que fracassou e decepcionou as pessoas. A
população está decepcionada com esse ajuste fiscal. São sentimentos
muito parecidos", afirmou Lavareda, referindo-se ao plano econômico
implementado em novembro de 1986, após as eleições estaduais, que
reajustou preços controlados, aumentou tarifas e impostos.
O
sociólogo afirma que somente uma análise dos fatores "emocionais"
permite entender como Dilma e Sarney têm as mesmas taxas de aprovação.
"O Brasil é tão melhor hoje que, se você não pensar nessas dimensões
subjetivas, não tem como entender. Isso não quer dizer que a avaliação
das pessoas é injusta. Não existe isso. É um dado concreto. As pessoas
não ficam comparando suas vidas com o passado pra avaliar se a realidade
hoje é boa ou ruim. Elas sentem que está ruim hoje", explica.
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